O Rio Grande do Sul enfrenta uma crise crescente em relação à população em situação de rua, exacerbada por recentes enchentes e o incêndio na Pousada Garoa, em Porto Alegre. O incêndio, que resultou em dez mortes e vários feridos, trouxe à tona a precariedade dos serviços de assistência social oferecidos pelo estado. A maioria dos moradores da pousada eram pessoas em situação de vulnerabilidade, com estadia custeada por um programa de assistência da prefeitura.
As enchentes que se seguiram complicaram ainda mais a situação. Dois dos três Centros de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) na capital fecharam devido às enchentes, deixando apenas um em operação. Dos três abrigos da cidade, apenas dois continuam funcionando, com vagas muito reduzidas.
De acordo com o último censo realizado pela prefeitura, havia aproximadamente 4,8 mil pessoas em situação de rua em Porto Alegre. Com a redução de vagas e a destruição causada pelas enchentes, este número deve aumentar. A assistente social Sibeli da Silva Diefenthaeler da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) enfatizou a urgência de reorganizar os serviços para atender essa população vulnerável.
Destino Incerto para Muitos
Atualmente, há três abrigos emergenciais para a população em situação de rua em Porto Alegre, além de um local adicional onde a maioria dos alojados pertence a este grupo. O colégio estadual Júlio de Castilhos (Julinho) abriga cerca de 80 pessoas, das quais 55 estão em situação de rua. Entre eles está Márcio José Jungbut dos Santos, conhecido como Marcinho, que relatou sua experiência de dormir nas ruas antes de encontrar abrigo temporário.
No entanto, a estadia no Julinho é temporária, com planos de retomar as aulas na próxima semana, deixando os abrigados incertos sobre seu futuro. A trabalhadora doméstica Icleia Machado, junto com seu marido, foi forçada a deixar sua pensão inundada e agora depende de auxílios governamentais para recomeçar. Carlos Henrique da Rosa, militante do Movimento Nacional da População em Situação de Rua, também expressou sua preocupação com a falta de alternativas de moradia após a enchente.
Desmobilização de Abrigos
No bairro Restinga, a Amurt Amurtel, uma organização da sociedade civil, mantém um abrigo temporário para cerca de 30 pessoas desde maio. Miriã Sebajes, uma das acolhidas, enfatizou a insegurança e violência das ruas, enquanto Fabiano Gomes da Rosa criticou as condições insalubres das pousadas custeadas pela prefeitura.
Ana Cristina Aguiar, coordenadora de projetos sociais da Amurt, destacou a falta de perspectivas para essas pessoas e a necessidade de pressionar o poder público para garantir uma organização adequada após a saída dos abrigos temporários.
A reportagem tentou contato com a direção da Fasc para um posicionamento sobre as políticas de assistência social e os planos para enfrentar a crise, mas não obteve resposta até o momento.
A situação atual evidencia a necessidade urgente de ações coordenadas e eficazes por parte das autoridades para garantir que as pessoas em situação de rua recebam o apoio necessário em meio a desastres naturais e falhas institucionais.