Artigo de opinião de Flávio Morgenstern, da Revista Oeste
Tem alguém que parece não estar informado do resultado das pesquisas eleitorais: Luiz Inácio Lula da Silva. Lula não se comporta como líder nas pesquisas. Alguém precisa comunicá-lo com urgência. Ele é campeão absoluto. Chance enorme de vencer no primeiro turno. Hora de fazer megacomícios. Sair na rua e ser levantado nos braços do povo. Entupir aeroportos. Dar entrevistas até para inimigos e contar vitória. Correr para o abraço.
Não dá para entender por que Lula anda tão tímido. Parece até com medo do povo que irá votar em peso no político mais popular do continente. Segundo pesquisas, a população ama Lula. Basta baixar numa padaria, feira livre ou na Avenida Paulista e na orla de Copacabana, e o país vai parar para cumprimentar o mais popular. O Amado. O líder de todos. O que sofreu mais do que Jesus Cristo.
Claro, falamos dos pobres criados pelo governo Bolsonaro. Porque com Lula, estes pobres estavam pegando avião pra Miami todo santo mês. Lula criou a nova classe média, que é 100% Lula. Uma classe inteira que apenas tem a agradecer ao petista, morrendo de ódio todo dia do fascista e do juiz malvado que o prendeu sem provas.
A campanha de Lula é tão popular, tão voltada para o povão, o trabalhador, que deveria ser no meio da rua. Entre motoboys e camelôs. Estes, que tinham apenas o petista como esperança de sobrevivência no meio da pandemia. Aqueles, que sonham em largar os aplicativos para ganhar direitos trabalhistas. Todos lembrando da sensação de segurança que só o PT podia dar. E motoristas de aplicativo, então? Lula podia pegar um aleatório por dia e filmar a conversa. Todos lulistas roxos.
Plateias amestradas
Mas o que vemos é um presidente hiperpopular (ainda mais com o ódio do povo ao “fascista”) que, em vez de ser consagrado pelas massas para arregimentar votos de indecisos — o que todo líder nas pesquisas fez no mundo todo —, prefere discursar apenas para os seus. Em eventos fechados. Em podcasts da militância. Com discurso emplastado no debate. Só conversando entre os seus. Mandando seu anódino vice conversar com empresários.
A campanha parece estar perfeita, não dando chances ao atual presidente, mesmo contando com a máquina estatal — parece que o povo detesta tudo o que ele faz. Mesmo assim, Lula constantemente troca a chefia da campanha. Já foi Augusto Fonseca. Antes mesmo do início da campanha, foi trocado por Sidônio Palmeira. Enquanto isso, trocou a coordenação da comunicação de campanha: saiu Franklin Martins e entrou Edinho Silva. Só da principal agência, serão torrados R$ 45 milhões — sendo que gastos com agência de publicidade foram o pivô do escândalo do Mensalão.
Lula não parece precisar de nada disso. Poderia só curtir uma praia, andar de moto, pegar uma carona com caminhoneiros, pegar um ônibus ou metrô lotado, viajar num avião de carreira (cheio de pobres voltando de Miami) ou dar uma volta com motoqueiros.
Não dá pra entender por que um líder das pesquisas não faz isso. O que será que esse comportamento significa?
Fonte: Revista Oeste, Terra Brasil.