O Comando Vermelho (CV), facção criminosa que domina o bairro do Nordeste de Amaralina, em Salvador, está cobrando R$10 mil de candidatos a vereador que desejam fazer campanha em becos e vielas da região. A prática, que já vinha ocorrendo de forma velada, foi confirmada por diversos políticos, que pediram anonimato ao descrever a situação como um estado de refém diante do controle do tráfico.
“Estamos reféns do tráfico. Não há como acessar os becos e vielas se não pagar. O valor é de R$10 mil”, desabafou um candidato sob anonimato, destacando que os candidatos que não aderirem à exigência do CV são limitados a realizar campanhas apenas nas ruas principais do bairro. Outro político também afirmou que “eles chegam de forma ostensiva, patrulhamento mesmo, exigindo o pagamento”.
A influência do crime organizado no processo eleitoral preocupa candidatos e moradores da região. “Até quem mora na área está abismado. Há barreiras impostas por eles, que não permitem campanha em determinadas localidades, já que ‘fecharam’ com algum outro candidato”, relatou um terceiro candidato.
Na tentativa de chamar atenção para o problema, um político apelou para a divulgação da situação. “Coloque essa reportagem, pois a gente não pode denunciar diretamente. Agora, vamos ter que colocar esse custo na campanha”, lamentou, descrevendo o cenário como um “estado paralelo”.
A pressão do crime organizado sobre o processo eleitoral chegou ao conhecimento do governador Jerônimo Rodrigues (PT), que foi questionado sobre o assunto. Em resposta, ele garantiu que todas as denúncias estão sendo tratadas pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), sob o comando de Marcelo Werner. “Tudo que vier de denúncia será tratado e cuidado”, assegurou o governador, ressaltando a importância da inteligência policial no combate a essas ações.
Jerônimo também destacou sua política de “tolerância zero” para evitar a politização das forças policiais e reforçou a necessidade de intervenção das autoridades para garantir que o processo eleitoral seja protegido da influência do tráfico de drogas. A cobrança de taxas por facções como o CV para atividades eleitorais em comunidades carentes revela o impacto do crime organizado na democracia local e coloca em evidência a urgência de ações eficazes das forças de segurança.
A pressão sobre os candidatos reflete o domínio de facções em áreas vulneráveis de Salvador, onde a presença do Estado é limitada, e o tráfico de drogas impõe seu poder, afetando diretamente o processo político.