Seguranças de governador passavam horas diárias sacando dinheiro de esquema que era levado a bunkers em Maceió
A determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) que devolveu Paulo Dantas (MDB) ao cargo de governador-tampão de Alagoas não interrompe a investigação da Operação Edema sobre R$ 54 milhões desviados da Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE). No inquérito da Polícia Federal, há diversos flagrantes de saques realizados por operadores do esquema ligados a Paulo Dantas. Eles passavam horas ocupando caixas eletrônicos, diariamente. E o dinheiro sacado com cartões de funcionários fantasmas era levado para apartamentos suspeitos de servirem de bunker para o produto dos crimes.
Vários flagrantes foram feitos dos saques realizados pelo casal José Carlos Leite de Araújo, chefe da segurança de Paulo Dantas, e a esposa dele, Alda Alves dos Santos. O policial militar aposentado que recebe R$ 5,3 mil mensais, chegava a permanecer, com sua esposa, até 3 horas por dia nas agências bancárias realizando os saques do esquema que envolve 93 funcionários fantasmas. Era tanto dinheiro que a PF flagrou Araújo derrubando notas de R$ 100 no chão, durante um dos saques. O destino do dinheiro desviado eram dois apartamentos, 201 e 507, do Edifício Golden Place, suspeitos de servirem de bunker, na área nobre de Maceió, na Ponta Verde.
Entre os 93 fantasmas identificados pelos investigadores, está o filho José Carlos Leite de Araújo, o professor de educação física, José Rodrigues de Araújo Neto, que atua dando aulas de futevôlei em Minas Gerais, longe de onde deveria atuar.
O segurança pessoal do governador, Maxwell Ronildo da Silva, também foi identificado fazendo saques bancários para o esquema, tendo revelado em seu depoimento, que sacava R$ 36 mil por dia usando dezoito cartões diferentes. As investigações concluíram que o homem levava o dinheiro ao apartamento do chefe da segurança de Paulo Dantas, José Carlos Leite de Araújo, em Maceió.
Outro destino do dinheiro sujo transportado em mochilas foi a sede de uma construtora. A suspeita é de que o dinheiro pagava a compra de 25 apartamentos, através de empresa aberta meses antes em nome das filhas de Paulo Dantas.
“A Reyconn Empreendimentos, por intermédio do empresário Reynaldo Amorim Malta, participa desse processo de lavagem ao receber valores dos investigados em circunstâncias não usuais”, diz um trecho de relatório do Ministério Público Federal (MPF).
Suspeito de corrupção, o candidato à reeleição Paulo Dantas enriqueceu 2.585%, após ser reeleito prefeito de Batalha (AL), em 2008, passando pela eleição como deputado estadual, até vencer a eleição indireta no Legislativo para o cargo de governador-tampão. Ele declarou R$ 191,4 mil como patrimônio em 2008, e saltou para os R$ 5,1 milhões declarados neste ano de 2022.
Paulo Dantas atribui ao seu trabalho como produtor rural, vendendo carne, leite e milho, todo seu patrimônio milionário, que subiu 645,17%, desde sua eleição como deputado estadual, em 2018. E diz ter declarado tudo à Receita Federal. Mas em sua declaração de patrimônio entregue à Justiça eleitoral no registro de sua candidatura, não há a mansão avaliada em R$ 8 milhões, onde foram encontrados R$ 100 mil em dinheiro, em Marechal Deodoro (AL).
Ameaças, depoimento mudado e suspeitas de interferência
O esquema foi revelado após José Everton dos Santos Gomes ser preso em flagrante, em 03 de agosto, antes da campanha eleitoral, com R$ 32 mil sacados de 16 cartões de servidores fantasmas. Em depoimento à PF, José Everton disse que o destino final das quantias sacadas era Paulo Dantas, tendo como intermediadores assessores do então deputado estadual: João Ferreira Júnior e Alexsandro Rodrigues, que trabalhavam na Prefeitura de Major Izidoro, administrada por Theobaldo Cavalcanti Lins Neto, cunhado do governador, conhecido como “Theobaldo Cintra”.
A primeira-dama de Alagoas, prefeita de Batalha(AL), Marina Dantas, também é apontada nas investigações como beneficiada como intermediária do recebimento dos recursos do esquema.
No relato da Polícia Federal ao STJ, também consta a informação de que, dois dias depois da abordagem, no dia 5 de agosto, José Everton compareceu espontaneamente à Superintendência da PF, em Maceió, para informar que a mulher e o irmão do operador teriam recebido ligações que diziam que José Everton seria assassinado, se não ‘aparecesse com os cartões de débitos e os R$ 32 mil’.
Duas semanas depois do flagrante, José Everton dos Santos Gomes, foi levado por um advogado até a sede da Polícia Civil, solicitando que prestasse um novo depoimento. E uma movimentação suspeita está sendo investigada como suposta interferência do governo de Paulo Dantas nas investigações, porque o depoente não foi levado à sede da PF, para o novo depoimento.
O delegado-geral da Polícia Civil de Alagoas, Gustavo Xavier do Nascimento, telefonou diretamente para a Superintendência da PF em Alagoas, pedindo a presença de um agente federal na Polícia Civil. Diante da negativa do envio de um policial federal, que poderia receber o depoente na própria sede da PF, o delegado-geral da Polícia Civil tomou o depoimento de José Everton, que mudou a versão dada inicialmente, no depoimento que depois foi enviado à PF.
À TV Record, a Polícia Civil diz que seu delegado-geral seguiu “princípios éticos” e jamais poderia se negar a ouvir José Everton como testemunha. (Com informações da TV Record).
Créditos Terra Brasil.