Moraes escolhia alvos e pedia ajustes em relatórios contra bolsonaristas, diz jornal

Conversas entre o gabinete de Alexandre de Moraes no STF (Supremo Tribunal Federal) e o órgão de combate à desinformação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), então sob sua liderança, revelam que, em vários casos, os alvos de investigação eram escolhidos pelo ministro ou por seu juiz assessor. A informação foi publicada nesta quarta-feira (14) pelo jornal Folha de S. Paulo, que também promete divulgar ordens do gabinete do magistrado para produzir relatórios da Justiça Eleitoral com o intuito de embasar suas decisões contra bolsonaristas na corte.

Segundo a nova reportagem, os diálogos mostram que os relatórios eram ajustados quando não satisfaziam as expectativas do gabinete do STF e, em alguns casos, eram elaborados especificamente para sustentar uma ação pré-determinada, como a aplicação de multas ou o bloqueio de contas e redes sociais.

As mensagens obtidas pela Folha foram trocadas entre Airton Vieira, juiz instrutor do gabinete de Moraes no STF, Marco Antônio Vargas, juiz auxiliar de Moraes durante sua presidência no TSE, e Eduardo Tagliaferro, então chefe da AEED (Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação), órgão subordinado a Moraes na corte eleitoral.

Procurado, o gabinete de Moraes afirmou que “todos os procedimentos foram oficiais, regulares e estão devidamente documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com integral participação da Procuradoria-Geral da República”.

Tagliaferro declarou que não irá se manifestar, mas enfatizou que “cumpria todas as ordens que me eram dadas e não me recordo de ter cometido qualquer ilegalidade”.

Diálogos

Em 6 de dezembro de 2022, Airton Vieira enviou uma mensagem a Eduardo Tagliaferro com uma solicitação específica e uma medida já decidida. “Vamos levantar todas essas revistas golpistas para desmonetizar nas redes”, escreveu às 18h11 daquele dia.

A mensagem veio acompanhada de um link do Twitter (agora X) da revista Oeste, conhecida por seu perfil de direita, antipetista e favorável ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Essa e outras do mesmo estilo”, acrescentou Airton.

A conversa continuou no dia 7 de dezembro, em um grupo que incluía Airton, Tagliaferro e Marco Antônio Martins Vargas, juiz auxiliar de Moraes no TSE.

Por volta das 17h, Tagliaferro informou que, ao analisar a revista Oeste, encontrou apenas “publicações jornalísticas” que “não estavam falando nada” e perguntou o que deveria incluir no relatório.

Airton Vieira respondeu logo em seguida: “Use a sua criatividade… rsrsrs.” E completou: “Pegue uma ou outra fala, opinião mais ácida e… O Ministro entendeu que está extrapolando com base naquilo que enviou…”.

“Vou dar um jeito rsrsrs”, respondeu Tagliaferro.

Nos diálogos obtidos pela Folha, não fica claro quais materiais da revista Oeste foram enviados pelo ministro e qual foi o destino do relatório produzido por Tagliaferro.

Outro alvo identificado nas mensagens de Moraes foi o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Conversas de novembro de 2022 entre Marco Antônio Vargas e Tagliaferro mostram que houve um pedido para relacionar o filho de Jair Bolsonaro com o argentino Fernando Cerimedo.

Cerimedo havia sido alvo de Moraes na época por divulgar em suas lives a desinformação de que a eleição foi fraudada, alegando que cinco modelos de urnas em que Lula (PT) recebeu mais votos não teriam passado por testes de segurança.

“Ele quer pegar o Eduardo Bolsonaro”, escreveu o juiz em 4 de novembro, mesmo dia em que Cerimedo apresentou pela primeira vez a teoria conspiratória.

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