ONG acusa EUA de manipular relatório sobre violações de direitos humanos

A Human Rights Watch (HRW), uma das mais respeitadas organizações de direitos humanos do mundo, acusou o governo dos Estados Unidos de manipulação política e omissão deliberada no relatório anual do Departamento de Estado sobre violações de direitos humanos. O documento, publicado na terça-feira (12), segundo a ONG, teria suavizado ou apagado denúncias contra países aliados e exagerado problemas em nações com relações tensas com Washington — entre elas, o Brasil.

A diretora da HRW em Washington, Sarah Yager, foi categórica ao classificar o novo relatório como “um exercício de encobrimento e enganação”, acusando o governo de Donald Trump de transformar um documento histórico em “arma política”. Segundo Yager, o texto apaga categorias inteiras de abusos, como aqueles contra mulheres, pessoas LGBTQIA+ e pessoas com deficiência, e minimiza crimes cometidos por governos alinhados aos EUA.

“O relatório faz autocratas parecerem mais palatáveis e encobre abusos graves”, afirmou.

Acusações contra o Brasil

No caso brasileiro, o relatório — com dados de 2024 — aponta uma suposta piora da liberdade de expressão, citando a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) contra grupos organizados na internet para atacar o sistema eleitoral e pregar um golpe de Estado. O texto acusa o governo brasileiro de “restringir desproporcionalmente” o discurso de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, repetindo a retórica oficial da Casa Branca utilizada para sancionar o ministro Alexandre de Moraes e impor barreiras a exportações brasileiras.

Especialistas ouvidos pela imprensa, como Pedro Kelson, do Programa de Democracia da Washington Brazil Office (WBO), afirmam que esse enquadramento distorce o contexto, ignorando provas de que tais investigações visam responsabilizar atos contra o Estado Democrático de Direito, incluindo tentativas de anular o resultado da eleição de 2022 e planos para prender e assassinar autoridades públicas.

Omissões sobre Israel

Em relação a Israel, a HRW denuncia que o relatório norte-americano omite práticas como deslocamento forçado em massa de palestinos na Faixa de Gaza, uso de fome como arma de guerra e bloqueio deliberado de água, eletricidade e assistência médica a quase dois milhões de pessoas. Também não há menção à destruição generalizada de infraestrutura, incluindo casas, escolas, universidades e hospitais.

El Salvador e Hungria

El Salvador, governado por Nayib Bukele — aliado de Trump —, é descrito pelo relatório oficial como livre de “violações significativas” de direitos humanos, apesar das denúncias da ONU e de ONGs sobre prisões arbitrárias, julgamentos em massa e restrições à liberdade de imprensa. A HRW também aponta que a Hungria, sob Viktor Orbán, vem atacando instituições democráticas, restringindo a atuação da sociedade civil e mídia independente, e perseguindo migrantes e pessoas LGBT, sem que esses abusos apareçam de forma consistente no documento dos EUA.

África do Sul na mira

O relatório norte-americano descreve uma piora significativa nos direitos humanos na África do Sul, citando a aprovação de um projeto de lei sobre expropriação de terras que, segundo o texto, ameaça minorias raciais — narrativa que a HRW diz ecoar acusações falsas propagadas por políticos de extrema direita nos EUA sobre um suposto “genocídio branco”.

Documento histórico sob questionamento

Criado em 1974, o relatório anual de direitos humanos do Departamento de Estado dos EUA foi concebido para orientar a política externa em relação a países com padrões consistentes de violações graves. A HRW alerta que, ao manipular informações e omitir abusos de aliados, o governo Trump mina a credibilidade do documento e o transforma em instrumento de disputa ideológica.

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