Mais de 70% dos trabalhadores de plataformas digitais não têm vínculo formal; maioria atua em transporte e entregas
O número de brasileiros que trabalham por meio de aplicativos e plataformas digitais cresceu 25,4% em 2024, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento mostra, no entanto, que a informalidade segue alta: 71,1% dos chamados “plataformizados” não têm vínculo formal de trabalho.
O país registrou 1,7 milhão de trabalhadores vinculados a aplicativos de serviços no ano passado, o equivalente a 1,9% da população ocupada no setor privado. Em 2022, eram 1,3 milhão — um aumento de 335 mil pessoas em dois anos.
Os dados integram o módulo Trabalho por meio de plataformas digitais 2024, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, feita em parceria com a Unicamp e o Ministério Público do Trabalho (MPT).
Alta informalidade e baixa contribuição à Previdência
O IBGE considera informais os trabalhadores sem carteira assinada, empregadores sem CNPJ, autônomos sem registro como MEI ou CNPJ, e empregados domésticos não registrados.
Entre os plataformizados, apenas 5,9% contribuem para a Previdência, contra 61,9% entre os não plataformizados. Mesmo com leve avanço de 2,2 pontos percentuais em relação a 2022, o índice ainda é considerado muito baixo.
Renda maior, mas com jornada mais longa
O rendimento médio mensal dos trabalhadores por aplicativo foi de R$ 2.996, cerca de 4,2% superior ao dos não plataformizados (R$ 2.875). Porém, o ganho por hora foi menor: R$ 15,40 contra R$ 16,80, já que a jornada média semanal dos plataformizados chegou a 44,8 horas, 5,5 horas a mais que os demais trabalhadores.
Segundo o analista da pesquisa, Gustavo Geaquino, o nível de escolaridade influencia diretamente nas diferenças salariais.
“Entre os menos escolarizados, os trabalhadores de aplicativos ganham em média 40% a mais do que os não plataformizados. Já entre quem tem ensino superior, ocorre o inverso: eles ganham quase 30% a menos”, explicou.
De acordo com ele, muitos profissionais com ensino superior atuam em funções que exigem menor qualificação, como motoristas e entregadores, enquanto os demais estão em cargos de direção ou áreas técnicas e científicas, com remuneração mais alta.
Controle das plataformas e dependência
O estudo também mostra o alto grau de dependência dos trabalhadores em relação às plataformas.
- 91,2% dos motoristas disseram que o valor das corridas é determinado pelos aplicativos.
- 76,7% afirmaram que não escolhem os clientes.
- Entre os entregadores, 70,4% disseram que o prazo é definido pela plataforma, e 76,8% relataram que a forma de pagamento também é controlada por ela.
- Mais da metade dos entrevistados (55,8% dos motoristas e 50,1% dos entregadores) afirmaram ter a jornada influenciada por bônus e promoções.
Além disso, três em cada dez trabalhadores relataram ameaças de punições ou bloqueios nos aplicativos, enquanto 78,5% disseram que a liberdade para escolher dias e horários ainda é o principal atrativo da atividade.
Sudeste lidera, Nordeste concentra transporte
A Região Sudeste reúne 53,7% dos trabalhadores por aplicativo do país. No Nordeste, 69,4% atuam no transporte particular de passageiros, a maior proporção regional.
Já o Norte apresenta o menor índice de atuação em serviços gerais (8,3%), enquanto o Sul (23,2%) e o Sudeste (20,4%) têm as maiores participações nesses segmentos.
No total, 86,1% dos trabalhadores por aplicativo atuam por conta própria, e 6,1% são empregadores. O setor de transporte, armazenagem e correio concentra 72,5% dessas atividades — reflexo do domínio dos aplicativos de transporte e entregas no mercado brasileiro.