O risco da falta de planejamento nas campanhas eleitorais

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Paulo Maneira é estrategista político, editor do Bahia Jornal e comanda o Podcast Liga da Política.

Ao longo dos mais de 20 anos que eu trabalho com campanhas eleitorais a frase que mais me incomoda e ouve-se muito nos bastidores é: “Ganha a eleição quem mais compra voto”.

Se acreditássemos que é assim mesmo que funciona, a eleição seria meramente uma transação comercial e de nada valeria para o candidato fazer um planejamento e dedicar seu tempo para tentar se eleger.

Na Bahia, assim como em outros estados do nordeste, é comum fazer parte das campanhas a cesta básica, a caixa d’água, o poço artesiano e o caminhão pipa. É muito comum o político surgir e sobreviver da ausência do poder público, ofertando atendimentos a saúde, assessoria jurídica, qualificação profissional, distribuição de brinquedos ou de equipamentos esportivos.

O ponto alto desta questão é simples: faz parte do planejamento das campanhas  “ações solidárias” que visam meramente a compra de votos, quando as disputas deveriam ser mais do que assistencialismo para encobrir a falta das ações do poder público.

O fato é que enquanto existir uma família passando fome ou com falta de água em seu lar será inevitável o assistencialismo como prática de compras de voto.

As campanhas eleitorais podem e devem ser mais do que isso.

Planejamento e estratégia na pré-campanha são capazes de fazer o candidato investir menos no período eleitoral. É a velha máxima de tempo versus dinheiro. E que de nada adiantam sem planejamento.

Contudo, um bom planejamento não pode ser feito sem tempo ou dinheiro.

Quanto mais tempo o candidato tem para organizar a sua campanha melhor, quanto mais verba ele tiver para investir mais oportunidades serão dadas a campanha.

Na Bahia, existe uma máxima no pagode que diz: “pau que nasce torto nunca se endireita” e com isso a velha política vem  prevalecendo e a forma mais arcaica de se fazer campanhas eleitorais segue na preferência dos “velhos políticos” mesmo que jovens.

Assim sendo, o compromisso acaba no dia da eleição, já que o ato de votar é o “pagamento” pelo favor e não cabe mais a nenhum dos dois qualquer cobrança, mesmo quando o candidato é eleito.

Assim, a política segue na roda gigante em que o político faz dívidas na eleição e usa seus mandatos para pagar a sua dívida de campanha, refém de fato daqueles que mandam no dinheiro.

Quem está vendido no final das contas não é apenas o eleitor, mas também aquele candidato que depende do uso do capital para se eleger.

Para romper este ciclo vicioso somente com a estratégia de conquista de votos de opinião para que esses sejam, juntos com o candidato eleito, donos de um mandato político.

É mudando a forma de fazer que se muda o resultado. Pois, não será repetindo velhos erros que se fará uma política nova e séria para todos.

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