Ana JA?lia disse que nunca tinha feito um discurso antes, mas sua fala na Assembleia Legislativa do Estado a tornou rosto do movimento secundarista
Em poucas horas, a vida da estudante do ensino mA�dio Ana JA?lia Ribeiro virou de cabeA�a para baixo a�� do completo anonimato, ela se tornou o rosto do movimento secundaristaA�apA?s a repercussA?o de seu discurso na Assembleia Legislativa do ParanA?.
UsuA?rios das redes sociais chegaram a comparA?-la com Malala Yousafzai, ativista paquistanesa que se tornou a pessoa mais jovem a ganhar um Nobel da Paz pela sua defesa A� educaA�A?o de meninas no PaquistA?o.
Em conversa com a BBC Brasil, Ana JA?lia disse que nA?o sabia da comparaA�A?o a�� mas gostou dela. “Que incrA�vel, a Malala A� demais, a luta dela A� maravilhosa.”
A estudante afirmou que nunca havia feito um discurso antes e que nA?o esperava a repercussA?o a�� e disse inclusive ter decidido desativar temporariamente sua conta no Facebook por medo de ataque de hackers.
“EstA? um pouco tenso porque eu nA?o estava preparada para isso. Fiquei sabendo um dia antes e nA?o tive uma grande preparaA�A?o, separei o que jA? tA�nhamos falado na ocupaA�A?o, dividi em tA?picos e fui no improviso”, contou a jovem.
Mesmo sem experiA?ncia na tribuna e com a voz embargada a�� “minhas pernas tremiam” a�� Ana JA?lia falou com firmeza. Seu discurso nA?o sA? virou um sucesso nas redes sociais, como tambA�m repercutiu na imprensa nacional e internacional.A�A revistaA�Forbes, por exemplo, chegou a chamA?-la de “futuro da juventude brasileira”.
Na parte mais dramA?tica de sua fala, ela disse que os deputados “tA?m as mA?os sujas de sangue”, em referA?ncia A� morte de Lucas Eduardo AraA?jo Mota, um estudante de 16 anos que foi morto em uma escola ocupada em Santa Felicidade, tambA�m em Curitiba.
Ao ouvir essas palavras, o presidente da Casa, Ademar Traiano (PSDB), ameaA�ou interromper a sessA?o por considerA?-las uma ofensa aos deputados.
Ana JA?lia pediu desculpas e citou o Estatuto da CrianA�a e do Adolescente (ECA). “Eu peA�o desculpas, mas o ECA nos diz que a responsabilidade pelos nossos adolescentes, pelos nossos estudantes, A� da sociedade, da famA�lia e do Estado.”
Direitos Humanos
A estudante aprendeu as disposiA�A�es do ECA no escritA?rio onde seu pai, o advogado JA?lio Ribeiro trabalha.
“Ela estuda de manhA? e na parte da tarde ela fica no meu escritA?rio estudando. A�s vezes eu leio alguma petiA�A?o ou recurso a ela e pergunto o que acha. SA? que A�s vezes eu atA� me irrito porque ela fica fazendo tanta pergunta, faz pergunta o tempo todo”, contou ele.
“Ela A� muito estudiosa, se vocA? dA? um livro ela lA? rapidinho, fica atA� de madrugada lendo, sempre foi assim.”
Entre seus livros preferidos estA?A�O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, que traA�a a histA?ria da filosofia ocidental em formato de romance.A�”Foi o primeiro livro que, quando eu li, pensei: ‘meu Deus, tem um mundo que a gente nA?o conhece aA�, um mundo que podemos descobrir e que devemos ir atrA?s'”, explicou ela.
Sobre o futuro, Ana JA?lia diz pretender cursar Direito na Universidade Federal do ParanA? (UFPR) e se dedicar aos Direitos Humanos.
Mas ela nA?o gosta de falar muito de si. Quando a BBC Brasil entrou em contato para solicitar entrevista, a estudante aceitou conversar apenas com a condiA�A?o de que a reportagem nA?o fizesse perguntas sobre ela A� sua famA�lia.
“NA?o quero que conversem com meu pai sobre mim, tira um pouco o foco. O que tem que ser priorizado A� o movimento, nA?o tem por que falar de mim.”
Apesar de hoje ser rosto do movimento secundarista, Ana JA?lia diz nA?o ter contato ou relaA�A?o com qualquer entidade do movimento estudantil a�� e ressalta que A� completamente apartidA?ria.
“Nossa bandeira A� a educaA�A?o, os estudantes pelos estudantes. NA?o A� porque pensamos diferente dos outros que somos doutrinados. NA?o consideramos os outros doutrinados por eles terem um ponto de vista diferente do nosso.”
OcupaA�A�es
As ocupaA�A�es no ParanA? comeA�aram no dia 3 de outubro a�� hoje, sA?o cerca de 850 escolas, 14 universidades e 3 nA?cleos tomados, de acordo com o movimento Ocupa ParanA?.
Os nA?meros sA?o conflituosos: a Secretaria da EducaA�A?o diz que sA?o 672 escolas, jA? que durante a semana houve a desocupaA�A?o de 159.
Trata-se de um protesto contra a Medida ProvisA?ria que prevA? alteraA�A�es no currA�culo do Ensino MA�dio e A� PEC 241, aprovada na noite de terA�a (25) no plenA?rio da CA?mara dos Deputados, que delimita um teto para os gastos pA?blicos, inclusive na educaA�A?o a�� o texto ainda serA? apreciado no Senado. Os alunos dizem cobrar o mA�nimo de debate para decidir o futuro deles e das escolas.
Como pauta especA�fica, os alunos do ColA�gio Estadual Alencar GuimarA?es tambA�m pedem a inclusA?o das aulas de artes (restrita ao segundo ano) e de histA?ria (restrita aos primeiros e terceiros anos) em todo o ensino mA�dio.
CrA�ticas
Apesar da popularidade da fala de Ana JA?lia nas redes sociais, as ocupaA�A�es tambA�m sA?o bastante criticadas.A�O Movimento Brasil Livre (MBL), alguns pais e professores cobram que os alunos liberem as escolas.
Entre as crA�ticas, fala-se do prejuA�zo causado pela falta de aulas A�s vA�speras do Enem e do uso do movimento secundarista como manobra polA�tica para pressionar os governos do presidente Michel Temer (PMDB) e do governador Beto Richa (PSDB).
Ana JA?lia nega as acusaA�A�es e diz que os estudantes desejam entrar em consenso com as autoridades.A�”Pedimos um canal de diA?logo, queremos que [Richa] ouA�a nossas propostas e entre numa relaA�A?o de consenso”, diz.
Depois da morte do estudante de 16 anos dentro de um colA�gio, o impulso pela desocupaA�A?o tenta ganhar mais forA�a.
O governador Beto Richa chegou a dizer que “os lA�deres destas ocupaA�A�es devem ser responsabilizados e responder pelo homicA�dio desse adolescente dentro de uma escola que participava da ocupaA�A?o”.
Fonte: Asltimo Segundo – iG
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