Cientistas baianos fazem parte de um grupo restrito de pesquisadores que produzem carne em laboratório
Cientistas baianos passaram a fazer parte de um grupo muito restrito de pesquisadores que produzem carne em laboratório.
Os cientistas trabalham com células tronco extraídas de carne bovina. No microscópio, elas são vistas dessa forma, parecidas com folhas. As células recebem nutrientes que estão em um líquido e se multiplicam.
“A gente precisa proporcionar a elas um meio nutritivo similar ao que acontece no organismo do animal. Então, a gente suplementa esses meios, esse conteúdo líquido no qual elas vão estar imersas, com aminoácidos, vitaminas, proteínas, açúcares, uma composição ali que a gente faz muito necessária pro crescimento celular”, explicou a engenheira de alimentos do Senai Cimatec, Tatiana Nery.
As mesmas proteínas contidas na carne são encontradas nas células, segundo os pesquisadores, e não é necessário o abate de um grande número de animais para extrair o material celular.
“A gente consegue produzir uma quantidade de proteína indefinida com um pequeno volume de células”, afirmou a engenheira de alimentos do Senai Cimatec.
Como são feitas
Para acelerar a multiplicação, as células são levadas um biorreator, onde ficam por quatro ou cinco dias.
Quando os pesquisadores conseguem a quantidade necessária de células para fazer uma pequena fatia de carne, começa a terceira etapa do processo. O produto precisa ganhar forma, ficar parecido com a carne que conhecemos.
No computador, a equipe define a estrutura, o formato e o tamanho da peça que será produzida, e a tecnologia permite muitas possibilidades.
Desta vez, a impressora 3 D vai criar uma peça semelhante a uma fatia de carne com camada de gordura nas bordas. As células são combinadas com biomateriais comestíveis que vão formar a parte sólida da carne de laboratório.
Nesta pesquisa, está sendo usado um produto à base de quitosana, extraída da casca do camarão. A engenheira de materiais do Senai Cimatec, Josiane Dantas, conta que o vermelho que imita a cor natural da carne vem de corantes naturais.
“Nós vamos utilizar diferentes ingredientes de origem natural para imitar o sabor da carne. Esses ingredientes hoje já são utilizados em diferentes alimentos disponíveis para o nosso consumo, e para isso nós precisamos fazer uma série de testes em laboratório para que a gente possa aproximar ao máximo esse sabor e essa textura da carne”, disse Josiane Dantas.
Regulamentação
A carne produzida ainda não está sendo consumida nem em testes. O Brasil não tem, por enquanto, regulamentação para o consumo desse produto, ao contrário de Singapura, que já aprovou a venda de carne de frango de laboratório.
No Japão e em Israel as pesquisas também estão mais adiantadas. O diretor de tecnologia do Senai Cimatec, Leoni Andrade, acredita que não vai demorar muito para que a carne alternativa esteja nas prateleiras em vários países.
“Em cinco anos, eu acho que isso já vai ser muito comum. Eu diria que o que vai forçar, ser o principal vetor, consolidar isso, é a decisão do consumidor de não querer uma carne a partir do abate de animais, isso tá cada vez mais forte”, opinou.
Fonte: g1